Ano da ressurreição política após três anos sabáticos: quando até o asfalto velho ganha maquiagem nova

Por Dermival Pereira em 27/10/2025 08:51 - Atualizado em 27/10/2025 08:55
ESTADO/TOCANTINS
Ano da ressurreição política após três anos sabáticos: quando até o asfalto velho ganha maquiagem nova
Foto: Divulgação

Vem aí aquele período encantado do calendário político, quase um Carnaval fora de época, em que os desaparecidos da vida pública ressuscitam com sorriso no rosto e discurso afinado. É o Ano da “ressurreição política”, da chuva de promessas e da clássica pintura de meio-fio — quando o chão rachado de três anos é milagrosamente revitalizado com uma demão de tinta. Tudo isso depois de três anos sabáticos, é claro.

Afinal, ninguém pode cobrar muito de uma classe que costuma trabalhar três dias por semana... quando trabalha. Agora, com o relógio eleitoral apitando, surge uma energia misteriosa, quase espiritual, que transforma até o mais sumido deputado em influencer de feira livre.

No Tocantins, os artistas desse grande teatro político já começaram a desengavetar seus figurinos. Voltaram as visitas aos bairros, os sorrisos treinados no retrovisor do carro de luxo, os discursos emocionados sobre “amor ao povo” e as fotos em qualquer evento — de inauguração de placas a chá de fralda de desconhecidos. Tem emenda distribuída aos rolos, promessa embrulhada em laço bonito e mão estendida para todo lado.

Entramos oficialmente na fase do:

• Ensaio geral: todo mundo já atua, mas jura de pé junto que não é campanha.
• Temporada de caça ao aperto de mão: nenhuma esquina fica sem visita, nenhum eleitor sem sorriso.
• Jardim das ações oportunas: projetos surgem como flores mágicas — sempre na época certa do milagre eleitoral.
• Ressurreição política: figuras que ninguém via desde 2019 voltam recarregadas, retocadas, reviradas e prontas para a foto.

E claro, este é o momento em que uma velha conhecida volta a circular com mais força que gasolina cara: a Lei de Gérson — aquela filosofia nacional que diz que o importante é levar vantagem em tudo, ética à parte, consciência à parte, eleitor à parte.

É o ano de enganar o povo já enganado.

De retomar obra paralisada, pagar servidor como favor, lançar projeto que não sai do papel, e soltar o clássico pedido emocionado: “Me dê só mais um tempinho para concluir o que eu ainda nem comecei”.

E assim, o espetáculo começa.
O eleitor, plateia fiel, observa.
O palco está montado, os atores estão prontos.
Quando fechar a urna, o teatro se desmonta.
Mas calma: daqui a dois anos, tem reprise.

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