Ano da ressurreição política após três anos sabáticos: quando até o asfalto velho ganha maquiagem nova
Vem aí aquele período encantado do calendário político, quase um Carnaval fora de época, em que os desaparecidos da vida pública ressuscitam com sorriso no rosto e discurso afinado. É o Ano da “ressurreição política”, da chuva de promessas e da clássica pintura de meio-fio — quando o chão rachado de três anos é milagrosamente revitalizado com uma demão de tinta. Tudo isso depois de três anos sabáticos, é claro.
Afinal, ninguém pode cobrar muito de uma classe que costuma trabalhar três dias por semana... quando trabalha. Agora, com o relógio eleitoral apitando, surge uma energia misteriosa, quase espiritual, que transforma até o mais sumido deputado em influencer de feira livre.
No Tocantins, os artistas desse grande teatro político já começaram a desengavetar seus figurinos. Voltaram as visitas aos bairros, os sorrisos treinados no retrovisor do carro de luxo, os discursos emocionados sobre “amor ao povo” e as fotos em qualquer evento — de inauguração de placas a chá de fralda de desconhecidos. Tem emenda distribuída aos rolos, promessa embrulhada em laço bonito e mão estendida para todo lado.
Entramos oficialmente na fase do:
• Ensaio geral: todo mundo já atua, mas jura de pé junto que não é campanha.
• Temporada de caça ao aperto de mão: nenhuma esquina fica sem visita, nenhum eleitor sem sorriso.
• Jardim das ações oportunas: projetos surgem como flores mágicas — sempre na época certa do milagre eleitoral.
• Ressurreição política: figuras que ninguém via desde 2019 voltam recarregadas, retocadas, reviradas e prontas para a foto.
E claro, este é o momento em que uma velha conhecida volta a circular com mais força que gasolina cara: a Lei de Gérson — aquela filosofia nacional que diz que o importante é levar vantagem em tudo, ética à parte, consciência à parte, eleitor à parte.
É o ano de enganar o povo já enganado.
De retomar obra paralisada, pagar servidor como favor, lançar projeto que não sai do papel, e soltar o clássico pedido emocionado: “Me dê só mais um tempinho para concluir o que eu ainda nem comecei”.
E assim, o espetáculo começa.
O eleitor, plateia fiel, observa.
O palco está montado, os atores estão prontos.
Quando fechar a urna, o teatro se desmonta.
Mas calma: daqui a dois anos, tem reprise.