Tocantins: o Estado do endividamento sem obras, da máscara a R$ 35 e da estrada que nunca se vê

Por Dermival Pereira em 17/10/2025 07:53 - Atualizado em 17/10/2025 09:10
ESTADO/TOCANTINS
Tocantins: o Estado do endividamento sem obras, da máscara a R$ 35 e da estrada que nunca se vê
Foto: Divulgação

A história recente do Tocantins é uma sequência de promessas milionárias e resultados invisíveis. Desde o governo de Siqueira Campos, em 2010, até a atual gestão interina de 2025, o Estado acumula empréstimos bilionários que, em tese, seriam destinados ao desenvolvimento. Na prática, o que se vê é um cenário de abandono: estradas esburacadas (Ex: da TO-030 que liga Palmas a São Felix do Jalapão), escolas caindo aos pedaços (EX: Eliacena Moura Leitão em Novo Acordo) e hospitais sucateados (HGP, dentre outros estado a fora).

Os números impressionam: R$ 553 milhões contratados com o BNDES em 2012, R$ 453 milhões e R$ 130 milhões firmados com a Caixa Econômica Federal no governo de Mauro Carlesse, e agora, em 2025, um novo pedido feito pelo governador interino, Laurez Moreira, que pode ultrapassar R$ 1,7 bilhão. Montantes que dariam para transformar o Tocantins num verdadeiro canteiro de obras — mas que, curiosamente, nunca se convertem em desenvolvimento real.

O padrão é sempre o mesmo: empréstimos vultosos em anos que antecedem as eleições, acompanhados de discursos sobre “investimentos em infraestrutura” e “melhoria dos serviços públicos”.
Mas, depois das manchetes e das cerimônias de assinatura, o silêncio volta a dominar.
As obras não aparecem, as promessas evaporam e o povo continua atolado na poeira das vicinais e no descaso da saúde pública.

E agora, o governo interino começa mal — antes mesmo de mostrar serviço, já busca endividar ainda mais o Estado, repetindo o roteiro que há anos mantém o Tocantins estagnado, “do nada para lugar nenhum”.

Difícil esquecer que este é o mesmo Estado que, em plena pandemia, pagou R$ 35 por uma máscara e R$ 22,6 mil por cada uma das 590 camas hospitalares adquiridas sem licitação no governo Carlesse.
Negócios escandalosos, que deveriam ter resultado em responsabilização exemplar — mas que, como tantos outros, se perderam no labirinto da impunidade tocantinense.

Os sucessivos empréstimos são sempre justificados pela promessa de “melhorar a infraestrutura”. Mas o que se vê nas cidades é o oposto: estradas intrafegáveis, pontes inacabadas, bairros sem saneamento e obras fantasmas. Não há controle público, não há transparência, e ninguém sabe medir o que realmente foi feito com o dinheiro.

Enquanto isso, falta quase tudo na saúde: falta remédio, falta médico, falta estrutura — só não falta dinheiro para shows milionários e festivais patrocinados com o dinheiro do contribuinte.
O contraste é revoltante: um povo que dorme no chão dos hospitais, enquanto autoridades se refestelam em camarotes de luxo.

Mas o capítulo mais triste dessa história é o que se desenha na Assembleia Legislativa. O novo pedido de empréstimo será analisado por um Legislativo desacreditado, onde pelo menos 10 dos 24 deputados são investigados por desvio de verbas públicas — recursos que deveriam ser usados para comprar cestas básicas durante a pandemia. Com esse currículo, é fácil prever o desfecho: o pedido será aprovado, e o Tocantins afundará ainda mais na lama do endividamento e da falta de vergonha.

Vivemos num Estado sem Justiça efetiva, sem Legislativo moralmente capaz e sem fiscalização real. Uma terra governada por uma tropa de Macunaímas, que se serve do poder com abundância, enquanto o povo sobrevive à míngua.

O Tocantins é, hoje, o retrato da mediocridade administrativa e moral. E se nada mudar, continuará sendo o que tem sido há anos: um Estado rico em promessas e pobre em resultados.

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